domingo, 28 de maio de 2017

Contribuições da Sociolinguística para o ensino de Língua Portuguesa


Não podemos falar em ensino sem fazermos referência aos PCN. E para contextualizar o que o que irá ser dito sobre Sociolinguística e ensino, reportemo-nos inicialmente aos PCN de Língua Portuguesa: A língua portuguesa, no Brasil, possui muitas variedades dialetais. Identifcam-se geográfca e socialmente as pessoas pela forma como falam. Mas há muitos preconceitos decorrentes do valor social relativo que é atribuído aos diferentes modos de falar: é muito comum se considerarem as variedades linguísticas de menor prestígio como inferiores ou erradas. (BRASIL, 1997, p. 26)
Os PCNs abordam a questão das variedades dialetais e  destacam o problema do preconceito linguístico ocorridos do valor social atribuído às formas variantes da língua; As reações de preconceito se manifestam, quase sempre, naquelas pessoas que se situam nos pontos mais altos na pirâmide social, e  que dominam a variedade padrão da língua.
Podendo ser identifcado em comentários do tipo:
“fulano fala errado”, “fulano não sabe falar direito”, “a fala de fulano é feia”... A fala (ou escrita) é julgada em função do status social dos indivíduos que a utilizam, e não pelas características linguísticas em si. É nessa direção que o documento propõe:
“O problema do preconceito disseminado na sociedade em relação às falas dialetais deve ser enfrentado, na escola, como parte do objetivo educacional mais amplo
de educação para o respeito à diferença” (BRASIL, 1997, p. 26).
A norma culta, que é a variedade de maior prestígio social, deve ter lugar garantido na escola, no entanto como já foi dito anteriormente não deve ser a única privilegiada no processo de conhecimento linguístico proporcionado ao aluno. Visto que a língua é heterogênea, e está sujeita
a variações e mudanças.

Contribuições no nível conceitual
Para entendermos melhor a contribuição da disciplina de sociolinguística para o ensino foi feito um pequeno resumo de seus postulados teóricos.

                         REJEITA
           POSTULA
• a noção de língua como um sistema homogêneo.
• que o sistema linguístico é heterogêneo e a variação
é uma propriedade regular e inerente ao sistema.
• a relação estabelecida por Saussure entre estrutura
e sincronia de um lado e história evolutiva e diacronia de outro
• a aproximação da sincronia e da diacronia igualmente às noções de estrutura e funcionamento da
língu a.
• a noção de comunidade de fala homogênea e a
existência de um falante-ouvinte ideal.

• a existência de comunidades de fala heterogêneas
e de falantes-ouvintes reais que nunca se expressam
da mesma maneira em diferentes situações comunicativas
• a noção de norma padrão imposta pelas gramáticas normativas – de caráter prescritivo.

• a noção de norma(s) derivada(s) do uso efetivo da
língua – de caráter descritivo.


       Mas qual a importância de o professor de língua portuguesa conhecer os postulados teóricos da Sociolinguística?  pelo que pudemos notar em nossa rápida passagem pelos PCN, É preciso ter um embasamento teórico acerca da linguagem em seu funcionamento social para poder atuar, de forma competente, na formação contínua do aluno-cidadão.
     O professor precisa estar ciente desses postulados para assim saber proporcionar condições para que o aluno saiba refletir sobre os fenômenos da linguagem e suas variedades. Por isso o educador deve está munido de um saber cientifico e domínio conceitual. Esse embasamento teórico é o  mínimo que se espera do professor de língua portuguesa nos dias atuais. 

                               Contribuições na prática do professor


   Com relação à prática, é importante que o professor conheça os conceitos sociolinguísticos básicos para poder aplicá-los na compreensão das diferentes situações de variação/mudança linguística que permeiam o dia a dia dos falantes. Do ponto de vista prático, apontamos algumas ações que não devem ficar de fora da agenda do professor de língua portuguesa: 
Devendo  trabalhar com os alunos a realidade sociolinguística  brasileira, e juntos professor-aluno;
  • Identificar fenômenos de variação linguística, em diferentes níveis presentes na sua comunidade.
  • Entender o funcionamento desses fenômenos variáveis.
  • Posicionar-se criticamente frente a situações de preconceito linguístico.
    Nessa direção uma das primeiras tarefas do professor seria reconhecer a realidade sociolinguística da sala de aula e da comunidade onde está atuando, observando, por exemplo, se há mescla de dialetos evidente entre os alunos, seja dialetos regionais (rural/urbano; nortista/sulista, por exemplo), seja sociais (maior ou menor domínio da norma culta em decorrência de fatores sociais como o nível socioeconômico da família, por exemplo).
      É importante trabalhar explicitamente com essa realidade da sala de aula, enfatizando a questão da heterogeneidade linguística, comparando as variedades e combatendo preconceitos entre os próprios alunos. Fazer da sala de aula um ‘laboratório de linguagem’ e atribuir aos alunos o papel de ‘investigadores linguísticos’ pode ser uma boa estratégia metodológica para que o ensino de gramática seja signifcativo e instigante. (GÖRSKI; COELHO, 2009).





Fonte: Sociolinguística / Izete Lehmkuhl Coelho ... [et al.]. – Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2010.


Um comentário:

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